top of page

Depois daquela viagem

 

Nunca se sabe ao certo quando começa uma viagem. Sempre tive a impressão de que, muitas vezes, tudo pode se passar dentro de um quarto. E nesses tempos de clausura em que vivemos, desde o início da calamidade provocada pelo vírus covid em 2020, mais do que nunca foi preciso aprender a viajar sem sair do lugar. De certa forma, eu já tinha me formado neste ofício, muito antes dos tempos pandêmicos. 

Mas para a pesquisa que iniciei entre os anos 1980 e 90, as viagens que me fizeram, de fato, entrar em aviões e explorar lugares desconhecidos, também foram absolutamente fundamentais. 

A primeira para o Japão, em 1995, foi particularmente marcante. Além do sofrimento de deixar minha família, na época meus três filhos eram muito pequenos (Lelê com quatro anos, Dó com seis e Nikolas com sete); e as inevitáveis choradeiras que me fizeram soluçar tantas noites sozinha na periferia de Osaka; foi desconcertante ficar tanto tempo em silêncio, em uma casa cheia de lesmas e baratas voadoras, sem conseguir me comunicar com ninguém e mergulhada em completo analfabetismo. 

O verão escaldante, as tempestades e os insetos já teriam sido suficientes. Mas ainda testemunhei o grande terremoto que destruiu a cidade de Kobe e afetou a vizinhança, impactando boa parte da região Kansai; e os atentados terroristas com gás sarin em Tokyo, comandados pelo guru Asahara.

Mas alguma coisa aconteceu simultaneamente a tudo isso. A experiência de um tempo sem duração, perto da estátua da grande Izumo no Okuni, imponente com seu leque e eternizada na pedra, mesmo tendo sido banida pelo patriarcalismo moralista do século XVII. O silêncio do jardim de pedra e da vegetação de Arashiyama também em Kyoto. O burburinho dos bares minúsculos do Golden Gai em Tokyo, entre tantos outros lugares sem qualquer referência turística, na deriva de caminhadas, desorientada por tantas cidades sem centro, com endereços enigmáticos e a necessidade de mudar a lógica do pensamento para, de fato, estar ali.

Além disso, a potência de experimentos artísticos e discussões conceituais abriram outros caminhos para perceber o corpo, as cidades, a tecnologia e as mídias ... desestabilizando muitas das minhas (quase) certezas. 

A partir de 2000, outros projetos internacionais e muitas viagens pelo Brasil me fizeram pensar em uma metodologia fabulatória de deslocamentos e seus microativismos.

Christine Greiner

tina kyoto templo  christine greiner japanese bug
Fotokuniichie  christine greiner japanese bug
conversa-Takao-Kawaguchi3-992x661  christine greiner japanese bug
 christine greiner japanese bug
FotoYale  christine greiner japanese bug
Fotocerisy  christine greiner japanese bug
kuniichi christine greiner japanese bug
kuriyama  christine greiner japanese bug
Ima Tenko  christine greiner japanese bug
 christine greiner japanese bug
fotoMexico  christine greiner japanese bug
 christine greiner japanese bug

JapaneseBug - Centro de Estudos Orientais: Christine Greiner

bottom of page